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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Perdida na estrada de Lynch

Séculos, milênios mais tarde, voltei a postar. Já que a minha amiga Alessandra só me ilude dizendo vai postar e não posta nada.
Bueno, já que é assim, então vou escrever sobre o que mais me interessa. (Obviamente todo mundo sabe do que se trata.)
E o filme escolhido foi Lost Highway de David Lynch. Se alguém ainda não conhece esse maluco, vale à pena tentar.
E porque diabos escolhi escrever sobre esse filme? Simples. Porque se eu não pudesse falar desse filme sem ser com um monte de palavras técnicas e limitada a duas folhas, eu ia ficar louca.

Lost Highway é um filme notavelmente maluco. Assisti quatro vezes e depois de cada vez, saí mais confusa ainda.
Trata-se de uma narrtiva baseada (o que me parece) nos delírios de um homem completamente obcecado por sua esposa e que começa a desconfiar que está sendo traído. E isso acontece no mesmo momento em que o casal começa a receber estranhas fitas de vídeo com gravações de dentro e de fora da casa deles. O que deixa Fred Madison (Bill Pullman), que já não andava bem das ideias (aliás, acho que nunca andou), a ficar mais maluco ainda. Essa maluquice de Fred, faz com ele que ele aparentemente mate a sua mulher. Sim aparentemente, já que na segunda metade do filme, René (mulher de Fred), aparece misteriosamente na pele da loira fatal Alice. O que faz com que perguntemos o filme todo se as duas são a mesma pessoa. Até porque, Fred também desaparece na segunda metade do filme, só que não da mesma maneira. Fred sofre uma metamorfose enquanto estava na prisão e se transforma em Pete, outro cara que não anda bem das ideias. E agora? René é Alice e Fred é Pete, ou o que? Na realidade (que realidade? a realidade da mente insana de Lynch?), me parece que tudo é um delírio de um psicopata esquizofrênico a beira de um ataque de nervos.
Ao final do filme, quando o circulo parece que vai se fechar e finalmente vamos entender o que aconteceu.... Pff... O circulo não se fecha. Há um paradoxo temporal que impede que esse circulo narrativo se feche. Ou seja, trata-se de uma narrativa com várias leituras possíveis, e muitas vezes, simultâneas.
E essa é a graça do filme. Não foi feito para ser entendido de uma só maneira. É tudo como se fosse um sonho (um pesadelo, no caso). E se esse sonho é entendido ou explicado da mesma maneira, perde a graça. A graça é não saber o que está acontecendo. Ou melhor, está em nunca saber o que aconteceu de verdade.
Mas essa narrativa desconcertante não é o único ponto forte do filme. Alguns pontos que eu quero ressaltar: fotografia, trilha sonora, maquiagem e atuação.
A fotografia me chama a atenção porque, no começo do filme, na casa de Fred e René, as cores são sempre em tons pastéis, marrom, cores que nos passa um tédio absoluto. Logo depois, as cores começam a ficar mais intensas, meio vermelho amarelado, e essas cores começam a mudar a partir do momento em que Fred vê em sua cabeça a cena em que ele assassina sua mulher. O que me passa uma coisa de "finalmente alguma coisa aconteceu nessa casa". Genial. A partir daí, as cores continuam intensas, mas na segunda parte do filme, os tons começam a ser mais azuis. Mas o importante é que estão sempre intensas e meio que psicodélicas, o que ressalta muito bem as condições psicológicas d Fred (e de Pete também).
Quanto à maquiagem, quero falar de uma em especial, já que a dos demais estão normais, já que as cores importantes do filme estão na fotografia, e não na maquiagem ou no vestuário. A maquiagem de quem eu quero falar, é do cara (que não tem nome) que assombra Fred o filme inteiro, e que nos causa (pelo menos a mim) um pavor. O cara tem a cara incrivelmente branca e os olhos negros, o que parece um fantasma mesmo. Um fantasma daqueles que assustam criancinhas de noite. Horrível. Macabro. (Lynch doente!)
E a trilha sonora? Ah, a trilha sonora! É incrível! O cara vai de David Bowie a Marilyn Manson sem errar a mão! E embora não tenha uma música em particular para cada momento, cada música nos faz entrar no mundo do protagonista e viver aquela loucura com ele. A música nos convida a participar daquela maluquice. E funciona. Cada ataque dele nos deixa cada vez mais nervosos. Sem falar no som. O filme não tem muitos diálogos, mas sempre tem um som característico da cena. E quando não tem, nos perdemos e assim como os personagens, não sabemos o que está acontecendo.
Bom, tudo isso sem falar das atuações. Não vejo um maluco melhor que Bill Pullman. E Patricia Arquette no papel de dois personagens completamente diferentes está exuberante. O que mostra a incrível capacidade de David Lynch de dirigir atores.
Sensacional.

P.S.: Tive que corrigir o texto várias vezes, porque o potunhol rolou solto.

Um comentário:

Mel com Limão, Limão com Mel disse...

Eu também me perdi nessa estrada, e adorei. Me encontrei no próprio Fred Madison, perdido no meio daquilo tudo, daquelas cores..
E o filme não seria tão bom se tudo se encaixasse no final, e se papel daquele personagem fantástico do tal Robert Blake, o "cara (que não tem nome) que assombra Fred o filme inteiro, e que nos causa (pelo menos a mim) um pavor" não ficasse nos atormentando por horas, dias, semanas, depois de vermos o filme...
Sem dizer que é um filme pra ser assistido em volume máximo, porque a trilha sonora parece que completa a perturbação das cores!

leka